Áudio é atribuído a pastor suspeito de importunar jovem sexualmente
Conselho Tutelar de Goiânia e vítima de 14 anos sustentam que voz é de líder religioso da Igreja Pentecostal Deus é a Vitória
atualizado
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Goiânia – “Eu amei, amei e amei. Amei muito. Quero todos os dias, sempre que puder, tá bom? Eu te amo muito e amei muito, gostei muito e quero sempre. Você é minha. A gente vai ficar junto agora, tá bom? Mas tudo no tempo certo. Você ouve a mensagem aí e apaga, tá bom? Te amo.”
A declaração está em uma das dezenas de áudios recebidos por uma adolescente de 14 anos e que foi atribuída por ela e pelo Conselho Tutelar de Goiânia ao pastor Otacílio Emanuel. Ele é dirigente da Igreja Pentecostal Deus é a Vitória, no Setor Parque Tremendão, na região noroeste, uma das mais pobres da capital goiana.
Em mais um capítulo do caso, o Metrópoles teve o aos áudios atribuídos ao pastor e que foram enviados, por meio de aplicativo de celular, à adolescente, que mora com a mãe. Inicialmente, ele é investigado, pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), por suspeita de importunação sexual.
O caso se tornou público na última semana, após a vítima gravar vídeo para provar o que sofria nas mãos do pastor até na casa dela. Nas imagens, ele força beijo na boca da adolescente, abraça, ordena que ela apague as mensagens, promete torná-la “muito feliz” e dá 10 reais. “A gente vai começar devagarzinho. Depois a gente vai fazer amor bem gostoso”, diz ele, no vídeo.
Mais de quatro meses
Em conversa com o conselheiro tutelar Junior Borges Leite, a adolescente contou que os crimes começaram a ocorrer há mais de 4 meses, mas, segundo ele, nenhuma das pessoas próximas, inclusive a mãe da vítima, acreditou por causa da credibilidade do pastor.
“Ele vinha molestando [a vítima]. A maioria foi na igreja. Na casa dela, foram dois encontros, um antes daquele que ela gravou”, diz o conselheiro. “Depois que tudo veio à tona, a mãe contou que o pastor chegou a lhe dizer que precisava ficar a sós com a filha dela para tirar o capeta do corpo da adolescente”, afirma Leite.
Os novos áudios, obtidos pelo Metrópoles e que estão sob investigação da Polícia Civil de Goiás, mostram que o pastor teria usado, frequentemente, por meio de conversas por aplicativo de celular, saudações de fé como sua principal arma para se aproximar da adolescente.
Saudações de fiéis
O “amém” e expressões tradicionalmente conhecidas entre os fiéis, como “Paz do Senhor”, serviram como isca para que o líder religioso, bastante conhecido na região, insinuasse alguma forma de acolhimento para a vítima, vulnerável também por causa da situação financeira de sua família.
“Paz do Senhor”, diz Otacílio Emanuel, em um dos áudios enviados à adolescente. “Tudo bem aí com você?”, pergunta, logo em seguida.
Mais adiante, o pastor diz que vai encontrá-la, na casa dela. “Daqui um pouquinho, eu chego aí. Na hora que eu for, te aviso. Você está aí só, né?”, pergunta o pastor.
“A hora que eu estiver chegando, o áudio para você aí, pra você já tá no portão, tá bom?”, avisa. “Já cheguei, tá bom?”, insiste, minutos depois.
Otacílio Emanuel não se conformava apenas com o momento do ato em si. Ele chegou a mandar vários áudios para a adolescente para saber a opinião dela, após os dois terem ficado a sós.
“Depois você me fala se você gostou. E você vai gostar muito mais. Vou fazer cada dia mais gostoso, vou te beijar mais gostoso, você vai sentir muito bem, tá bom?”, afirma o pastor, em um dos áudios.
O conselheiro tutelar diz que a adolescente levou o caso à tona para dar um grito de basta a todo sofrimento e toda forma de assédio que vinha sofrendo. “Ela contou que sentia muita revolta, indignação e nojo”, acrescenta Leite.
“Lavagem cerebral”
A mãe da vítima, de acordo com com o conselheiro, se sentiu intimidada no primeiro momento por conta do grande poder do pastor na comunidade. “O pastor fez lavagem cerebral para [a mãe] não denunciar. A mãe disse que depois questionou o pastor e que ele pediu perdão e chorou”, conta ele.
O Conselho Tutelar de Goiânia informa que recebeu a denúncia, na última terça-feira (20/4), por meio de uma pessoa próxima à família. “A adolescente ou pelo Instituto Médico Legal, onde fez exame de corpo de delito, e, graças a Deus, ela não teve conjunção carnal. Ela não teve ruptura do hímen”, relata Leite.
Outro conselheiro tutelar que acompanha o caso, Jhonny Moreno destaca que o pastor, por ser dirigente de uma igreja pequena, tinha contato muito próximo com todos os fiéis e frequentava a casa das famílias, normalmente.
“Ela não estava mais aguentando essa situação e disse que achava tudo isso errado. Ela disse que estava muito desconfortável com tudo o que vinha acontecendo e não sabia mais o que fazer”, assevera Moreno.
O Metrópoles não obteve retorno da titular da DPCA, delegada Marcela Orçai, nem do Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO), até a publicação desta reportagem.
O portal também não conseguiu contato com o pastor e nem localizou sua defesa até o fechamento deste texto. O espaço está aberto para manifestação. A pena prevista para o crime de importunação sexual é de 1 a 5 anos de reclusão.