Saiba como funcionam as bombas nucleares e quais são as mais poderosas
Entenda a ciência por trás das armas mais destrutivas já criadas e o quanto as pesquisas avançaram desde 1945
atualizado
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O mundo tem vivido uma nova corrida armamentista. O termo foi abandonado com o fim da União Soviética, mas com a postura agressiva do governo dos Estados Unidos em relação a antigos aliados na Europa, os países decidiram voltar a se armar. As nações europeias devem investir cerca de um trilhão de reais nos próximos anos em armas.
Neste contexto de disputas, as bombas nucleares possuem um papel essencial. O presidente francês, Emanuel Macron, chegou a falar da potencial utilização delas no início do mês. Embora seu uso seja proibido e desencorajado por tratados assinados tanto nos anos 1970 quanto em 2017, elas oferecem um poder ameaçador dada a sua poderosa capacidade de destruição, que só tem evoluído ao longo dos últimos anos.
As bombas nucleares são dispositivos que usam grandes quantidades de energia para manipular o núcleo dos átomos em dois processos: fissão (quebra) e fusão (junção).
Os dois tipos de bombas nucleares
A fissão nuclear divide os núcleos de elementos pesados, como urânio ou plutônio, liberando uma quantidade de energia térmica colossal (e também uma boa dose de radiação).
Elas, porém, não são as mais fortes. Mais do que o processo de dividir o núcleo dos átomos, se gera ainda mais energia ao obrigar que dois deles se unam, como ocorre na fusão nuclear.
O processo, usado em bombas H, combina núcleos de hidrogênio: eles são obrigados, por pressão, a ocupar o mesmo lugar, formando um novo núcleo mais pesado de átomo, o hélio.
“Essas reações nucleares liberam muita energia, são elas que mantêm o Sol aceso e tão ativo. Uma bomba com este processo pode ter uma potência até mil vezes maior do que a de uma bomba atômica”, explica o físico Francisco Eduardo Gontijo Guimarães, docente do Instituto de Física de São Carlos, da USP.
Da teoria à prática
A fissão nuclear foi comprovada na década de 1930, quando cientistas como Lise Meitner, Otto Hahn e Fritz Strassmann bombardearam um átomo de urânio com nêutrons, gerando dois átomos menores e uma quantidade de energia grande o bastante para mover em alguns centímetros uma estrutura muito maior que o átomo, como um grão de areia.
Parece pouco, mas cada grama de urânio possui mais de 3 quatrilhões de átomos, o que permite que o processo de fissão leve à liberação da mesma energia de 20 toneladas de dinamite.
Vários cientistas participaram do processo de criação de uma bomba que pudesse ser utilizada como arma. Liderados por Robert Oppenheimer, os físicos do projeto Manhattan criaram três bombas, sendo que duas foram jogadas em cidades japonesas ao fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.
Hiroshima e Nagasaki: marcos trágicos
A primeira, Little Boy, detonou em Hiroshima, matando cerca de 140 mil pessoas. Três dias depois, Fat Man explodiu em Nagasaki, com potência ainda maior, vitimando 70 mil pessoas. As ondas de choque, calor e radiação causaram destruição imediata e efeitos duradouros, como câncer e mutações genéticas.
“A radiação é invisível, mas atravessa barreiras físicas, destruindo DNA e causando tumores. Não é possível medir quantos quilômetros a onda de radiação pode alcançar, já que ela é composta por raios gama, raios de luz e partículas subatômicas provenientes do núcleo de urânio, que não podem ser vistos nem medidos. Quanto mais distante dessa radiação uma pessoa estiver, menores serão as consequências”, alerta Guimarães.
A evolução das armas nucleares
Após a Segunda Guerra, a Guerra Fria impulsionou o desenvolvimento de bombas mais poderosas que a atômica e com processos ainda mais complicados de se alcançar.
Em vez de várias detonações ao mesmo tempo, que são capazes de levar os átomos de um material pesado a se separarem, as bombas de hidrogênio, criadas pela União Soviética e testadas pela última vez pela Coreia do Norte em 2023, obrigam os núcleos a se unirem.
O processo que leva os átomos a se juntarem à força ocorre de duas formas. Na natureza, costuma ser fruto da intensa gravidade das estrelas, que os comprime e os mantém em constante explosão.
“Nas bombas H, é preciso que se alcance uma temperatura semelhante à do Sol para chegar ao processo, por isso se costuma usar bombas atômicas para ativar as bombas H”, explica a física nuclear Ana Freire Ribeiro.
O explosivo mais potente já detonado foi o soviético Bomba Czar, em 1961, com potencial de destruição de 50 milhões de toneladas de dinamite. No geral, as demais bombas H testadas tiveram a metade da potência, mas com uma capacidade de destruir raios de mais de 40 km de distância.
Atualmente, estima-se que há cerca de 13 mil bombas nucleares no mundo. O país com mais ogivas é a Rússia. Estados Unidos, China, França, Reino Unido, Índia, Paquistão e a Coreia do Norte também têm este tipo de armamento.
O legado da física nuclear
Organizações como a Nihon Hidankyo, que reúne sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki, lutam contra o uso de armas nucleares. Em 2024, o grupo recebeu o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços. “A lição de Hiroshima nunca deve ser esquecida”, diz Ana Freire.
“O fato de a energia atômica ter sido usada durante tantos anos como base de armamentos acabou gerando um estigma na população, mas ela é usada de diversas formas na sociedade, desde tratamentos na medicina até a datação de fósseis com carbono-14”, completa a física nuclear.
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