Tatuagens faciais incomuns em múmia misteriosa intrigam arqueólogos
Com cerca de 800 anos, a datação feita pelos cientistas indica que a múmia com tatuagens faciais incomuns viveu entre 125 e 1382 d.C.
atualizado
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Uma múmia sul-americana do gênero feminino com cerca de 800 anos chamou a atenção de arqueólogos e antropólogos pelas suas tatuagens faciais raras e minimalistas. O significado delas ainda é um mistério, mas destaca a complexidade das práticas culturais antigas. A descoberta foi publicada no periódico Journal of Cultural Heritage em 14 de maio.
Liderados por Gianluigi Mangiapane, da Universidade de Turim, na Itália, a equipe de pesquisa analisou a múmia que teve seus restos mortais doados ao Museu Italiano de Antropologia e Etnografia há cerca de um século, sem qualquer documentação contextual, sendo classificada apenas como um artefato sul-americano.
Um fato que chamou bastante atenção dos cientistas foi a preservação incomum da tatuagem na pele. Apesar de ser raro em achados arqueológicos, algumas múmias da América do Sul são capazes de manter os desenhos visíveis devido ao clima dos desertos costeiros, que oferecem condições ideais de preservação por serem secos e impedirem a decomposição da pele.
Pela falta de informações, ainda não se sabe ao certo a origem da múmia, mas alguns detalhes conseguem clarear pontos importantes para os pesquisadores. A posição do corpo – sentado, com joelhos dobrados e envolto em tecidos – é típica dos ritos funerários da cultura Paracas, conhecida por habitar a costa sul do Peru. A datação dos fragmentos têxteis realizada por radiocarbono indica que ela viveu entre 125 e 1382 d.C..

Mesmo visíveis, as tatuagens eram um pouco difíceis de ver devido ao processo de mumificação que escurece a pele. Os cientistas precisaram utilizar várias técnicas de imagem não destrutivas para conseguir observar melhor o design minimalista dos desenhos.
Região corporal comum para tatuagens feitas entre os povos antigos da América do Sul, o punho da múmia apresenta um desenho simples em forma de “S”. Tatuagens extremamente raras estão presentes nas bochechas, com linhas simples e de aparência minimalista.
“As três linhas de tatuagem detectadas são relativamente únicas: em geral, marcas de pele no rosto são raras entre os grupos da antiga região andina e ainda mais raras nas bochechas”, relatam os autores do artigo.
A análise química também revelou algo inédito: a tinta preta usada nas tatuagens da múmia não era feita de carvão, como era o mais comum. Os pesquisadores identificaram a presença de magnetita, um minério de ferro preto, metálico e magnético e nunca relatado em nenhuma outra múmia da América do Sul.
“Os resultados destacam a presença de magnetita, bem como de outras fases ricas em ferro do grupo dos silicatos de piroxênio, com uma pequena quantidade de materiais à base de carbono, possivelmente não adicionados intencionalmente (devido a procedimentos de preparação de pigmentos, por exemplo)”, escrevem os pesquisadores.
Ainda não se sabe ao certo o significado exato das tatuagens, podendo indicar uma possível função simbólica, social ou ritual.
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