Como o rock dos anos 1970 se aproximou de ideologias controversas
Para provocar ou se rebelar a algumas ideias, artistas de rock do período flertaram com elementos do nazismo e do fascismo em alguns momento
atualizado
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O rock dos anos 1970 foi território fértil para o metal agressivo, o punk rebelde e as demais experimentações do gênero musical, que estava em ebulição. A moda e o som andaram de mãos dadas, inclusive em um recorte controverso daquela década. Ícones da época se aproximaram de simbologias polêmicas como forma de provocar. Entre elas, o fascismo ou a suástica, do nazismo.
Os atos de rebeldia “contra o sistema”, no entanto, causaram uma leitura ambígua. A seguir, veja três exemplos de como isso ocorreu, e como a moda esteve, de alguma forma, envolvida.
Sid Vicious (Sex Pistols) e Siouxsie Sioux com a suástica
Sid Vicious (1957-1979), da banda Sex Pistols, e Siouxsie Sioux, dois ícones do punk britânico, deixaram marcas profundas na estética e no comportamento da cena. Inclusive, por escolhas visuais polêmicas. Ambos foram vistos usando itens com suásticas no fim dos anos 1970, como camisetas ou braçadeiras. No caso de Siouxsie, segundo ela, não por alinhamento ideológico, mas como forma extrema de provocação.
“Sempre foi uma coisa muito anti-mães e pais. Odiávamos pessoas mais velhas. Não em geral, mas geralmente o que acontecia nos subúrbios, sempre falando sobre Hitler e ‘nós mostramos a ele’, e aquele orgulho presunçoso”, disse Siouxsie Sioux em entrevista ao escritor Jon Savage para um livro, citada pela BBC. “Era uma forma de dizer: ‘Bem, eu acho que Hitler era muito bom, na verdade’; uma forma de ver alguém assim ficar completamente vermelho.”
Na lógica do punk, chocar era parte do manifesto, e símbolos proibidos se tornaram armas visuais para afrontar a ordem social daquele período. No entanto, dado o contexto da suástica, o gesto de Vicious e Sioux levantou críticas e até confusões sobre os limites da ironia como ferramenta da transgressão. Vale lembrar que, antes de se tornar uma referência nazista, o símbolo já existia e era considerado sagrado para algumas religiões.

David Bowie e declaração sobre o fascismo
Em 1976, David Bowie (1947-2016) fez declarações controversas durante sua fase como a persona Thin White Duke. Ele sugeriu iração por figuras autoritárias – como falar que Hitler foi “um dos primeiros astros do rock”, à Playboy – e chegou a dizer para um jornal que o Reino Unido “poderia se beneficiar de um líder fascista”. Depois, ele se retratou e atribuiu os comentários, “incrivelmente irresponsáveis”, ao abuso de drogas.
A declaração antecedeu a fase do artista em Berlim no fim dos anos 1970, quando ele adotou uma estética mais minimalista e fria, refletida tanto na trilogia de álbuns gravados na Alemanha — Low, Heroes e Lodger — quanto em sua imagem, com silhuetas rígidas, alfaiataria militar e um ar andrógino. No fim dos anos 1970, após as falas controversas de Bowie, uma declaração polêmica de Eric Clapton contribuiu para criação do movimento Rock Against Racism (Rock contra o racismo, em tradução do inglês).

Kilmister e os objetos controversos
Lemmy Kilmister (1945-2015), vocalista do Motörhead, era conhecido por colecionar memorabilia da Segunda Guerra Mundial, como a condecoração militar conhecida como Cruz de Ferro, e da Alemanha nazista, como medalhas da SS e uniformes originais. A coleção ganhou evidência após a tour do disco Rock ‘n’ Roll (1987), segundo o livro A História Não Contada do Motörhead.
Apesar disso, o cantor sempre negou ter simpatia ideológica com o tema e dizia se interessar apenas por “história militar” e pela estética. “Eu só coleciono as coisas, não coleciono as ideias”, disse ele em uma entrevista de 2010. No figurino, que misturava couro, botas pesadas e referências bélicas, ele moldou uma imagem de poder e rebeldia, com peças como botas de caubói e seus inseparáveis chapéus.

Reivindicações do punk
Apesar do uso ocasional de simbologias nazistas como forma de choque, o cerne ideológico do punk sempre esteve no extremo oposto do fascismo. O movimento nasceu como uma reação antiautoritária, anticapitalista e contestadora das formas de opressão institucional. Letras denunciavam a brutalidade policial, o conservadorismo, o racismo e a alienação social.
A estética punk era uma recusa explícita às normas e hierarquias, inclusive às impostas por regimes totalitários. Por essa razão, gestos como o uso da suástica, mesmo que de forma irônica, cruzou a linha entre a crítica e a insensibilidade histórica.
Na galeria abaixo, relembre algumas das bandas de rock mais influentes dos anos 1970: