Entenda o estilo conservador de Kamala Harris nestas eleições

Na corrida presidencial de 2024 nos Estados Unidos, Kamala Harris, atual vice-presidente do país, tem atraído atenção não apenas pelas propostas políticas, mas também pelo estilo de roupas escolhido. Ao contrário da campanha de 2020 — época em que apareceu em looks casuais e descontraídos —, ela agora exibe um guarda-roupa muito mais formal. O visual, composto principalmente por terninhos bem cortados e maquiagem discreta, reflete uma estratégia consciente para se alinhar às rígidas normas de vestimenta da política norte-americana.

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Para a campanha como vice-presidente da chapa democrata Joe Biden, em 2020, Kamala Harris precisou investir em estratégias de imagem que a aproximassem dos jovens eleitores. Com isso, ela optou pelo uso do tênis All-Star, da Converse, além de looks casuais e descolados. A consultora de branding e imagem Deniza Gurgel compartilha com a coluna uma análise sobre essa decisão:

“O uso desse tênis impactou positivamente a imagem da Kamala. Em 2020, o cenário era bem diferente do que é hoje. E Kamala chegou para compor essa chapa com o Biden para ter um protagonismo muito semelhante ao dele, o que não é muito comum. Porém, naquela eleição, eles precisavam ter uma figura que ajudasse a conectar a geração Z e milênio com eles. E esse público se enxergou na escolha do calçado”, avalia a especialista.

Eleita como a 49ª vice-presidente e agora concorrendo à presidência dos EUA, Harris teve que adotar uma mudança repentina no estilo. Isso porque há um fato delicado de que as mulheres, especialmente as que pertencem a grupos minoritários, precisam ter um cuidado três vezes maior com a própria imagem para manter cargos de destaque.

Cada escolha de roupa é meticulosamente calculada, para evitar que qualquer “erro” possa se tornar um ponto de distração ou crítica pública. Com a disputa por uma posição de máximo poder, é preciso ter cautela.

A nova imagem de Kamala Harris exala polidez e firmeza

Na campanha eleitoral deste ano, Kamala Harris optou por um estilo que transmite seriedade, controle e firmeza. Os visuais da candidata agora são, predominantemente, compostos por alfaiataria lisa e bem estruturada — uma tentativa de reforçar, para o público, uma imagem de competência diante do desafio de liderar os Estados Unidos.

Para a consultora de imagem política, essa escolha não é apenas estética, mas profundamente estratégica. Ao se distanciar de visuais mais ousados, ela evita qualquer tipo de atenção que possa desviar o foco de propostas políticas.

“Na campanha eleitoral, as roupas têm um papel fundamental. A gente se comunica por imagem e tira conclusões o tempo inteiro. Mais do que ativar arquétipos, as roupas precisam ser usadas dentro de campanhas políticas para pautar os debates políticos”, explica Gurgel.

A abordagem conservadora no vestuário contrasta fortemente com a campanha de 2020, quando Harris quebrou algumas expectativas ao aparecer em eventos políticos com tênis da Converse nos pés, por exemplo. Nessas ocasiões, o objetivo da escolha era um gesto de identificação com os eleitores mais jovens e um toque de modernidade na campanha.

“Assim que se confirmou o nome dela como candidata à presidência, começou a criar uma expectativa de ‘e aí, veremos essa mesma abordagem despojada?’. E ela veio com uma decisão que eu acho bem acertada, de mostrar a capacidade dela de governar, que vai ser a grande crítica que ela vai receber e enfrentar”, opina a consultora.

Ao adotar looks mais sérios, Harris busca transmitir estabilidade e confiança, características importantes para conquistar eleitores indecisos. “Ela já conseguiu entrar no imaginário da geração Z e dos millenials, então agora ela precisa conquistar o voto do centro, que é mais desconfiado, e que deve se sentir mais seguro sem uma imagem extremista”, completa.

Enquanto a corrida presidencial avança, a estadunidense continua a usar a moda como uma ferramenta política. Em um setor no qual cada detalhe pode ser amplamente criticado, Kamala Harris escolheu transmitir conservadorismo e profissionalismo por meio da aparência.

Para a norte-americana, a questão da imagem é ainda mais complexa devido à identidade racial. Como a primeira mulher negra e de ascendência sul-asiática a concorrer à presidência dos Estados Unidos, a advogada carrega o fator adicional de representar grupos historicamente marginalizados.

Qualquer desvio das normas tradicionais de vestimenta pode ser interpretado como uma tentativa de “quebrar regras” ou de fugir dos padrões esperados. Ao contrário dos concorrentes masculinos, que têm mais flexibilidade nessas escolhas, Harris precisa ser meticulosa. A representatividade que ela carrega exige que a aparência seja controlada, para não atrair críticas que tirem o trabalho dela como política do foco.

Durante o período como primeira-dama, Michelle Obama também enfrentou dilemas semelhantes em relação a isso. Em entrevistas à imprensa internacional, a norte-americana revelou que evitava usar penteados como tranças afro-americanas para não distrair o público ou alimentar estereótipos sobre pessoas pretas. Harris, que segue uma linha semelhante agora, também escolhe penteados mais “convencionais”, e evita inovações que poderiam ser vistas como “fora do padrão” no ambiente político.

“Quando são trazidas essas peças mais atuais para campanhas, é uma forma de promover uma energia de modernidade. E quando ela muda para algo mais sério, com tons de bege, azul-marinho, ela entrega outra mensagem: de alguém que tem poder, autoridade e que pode ser confiável. Então, a gente vê que pequenos ajustes foram feitos de 2020 para 2024, mas que têm uma relevância importante no posicionamento dela“, finaliza Gurgel.

Caso Kamala Harris vença a corrida presidencial, ela poderá, no futuro, sentir-se mais confortável para explorar diferentes formas de expressão por meio da moda, assim como fez no início da carreira. Por enquanto, a candidata continua a trilhar um caminho no qual as roupas não se resumem apenas a estilo, mas também estratégia e representação.