Marca de luxo Loro Piana é acusada de explorar trabalhadores peruanos
Controlada pelo grupo francês LVMH, a grife italiana vende peças da lã mais cara do mundo, extraída por indígenas sem remuneração
atualizado
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Grande parte das duzentas mil espécimes de vicunha — animal da lã mais cara do mundo — que vagam pelos Andes peruanos tem como destino casacos da Loro Piana, marca do grupo LVMH. Quem faz o trabalho de extração das peles do animal é a população indígena de Lucanas, vila no Peru que oferece o trabalho com exclusividade para a grife. A problemática, porém, está no fato de que os agricultores não recebem pelo serviço.
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Lã de luxo da Loro Piana
Uma reportagem do portal Bloomberg divulgou dados sobre o negócio, que rende apenas US$ 280 (equivalente a R$ 1,4 mil) para Lucanas pela matéria-prima de cada casaco, vendido por até US$ 9 mil (cerca de R$ 45 mil). O pequeno valor recebido não chega às mãos dos trabalhadores, considerados “voluntários” pela vila.
A Loro Piana é comandada pelo conglomerado francês LVMH, que tem como diretor Bernard Arnault, o homem mais rico do mundo, segundo a Forbes, com fortuna de mais de US$ 20o bilhões (R$ 1 trilhão). O grande destaque no catálogo da grife italiana são as peças de lã de vicunha, a mais cara do mundo.
A vila de Lucanas tem aproximadamente 2,7 mil habitantes e exporta a lã do animal para a Loro Piana com exclusividade, mas a riqueza extraída de seus montes não é revertida em melhorias sociais. Na região, a maioria das casas são de barro, e os moradores trabalham por subsistência, sem receber pagamentos pelos serviços.
Chamada de “fibra dos deuses” pela Loro Piana, a lã de vicunhas é encontrada com abundância nos Andes. Contudo, mesmo com alta oferta e demanda, os preços finais dos produtos crescem anualmente, sem lucros para a população indígena local.





Trabalho escravo é estrutural na moda
O caso da Loro Piana, que explora trabalhadores indígenas no Peru, não é isolado. “A indústria da moda foi forjada a partir do escravismo e da colonização. Esse tipo de situação está no DNA do setor. Este não é o primeiro caso e infelizmente não será o último”, analisa a jornalista Iara Vidal, representante do Instituto Fashion Revolution Brasil. O grupo denuncia e reúne dados acerca da transparência na indústria da moda, em temas como o trabalho escravo.
Vidal defende a importância da acusação, mas define como apenas “a ponta do iceberg”. “É um modelo exploratório, injusto e estrutural. Serve de convite para refletir sobre ‘quem faz minhas roupas’. Apenas o consumo não é capaz de mudar essa realidade, é preciso reformar a governança global e garantir vozes para povos vulneráveis”, afirma.


Enquanto os casacos da Loro Piana alcançam preços exorbitantes, a comunidade indígena que extrai a matéria-prima é negligenciada pela marca e por toda a indústria fashion, sem recompensa justa pelo trabalho. Esse é apenas um exemplo revoltante de uma realidade muito mais ampla de exploração e desigualdade que domina estruturalmente o setor.