Exclusivo: após prisão no Rio, MC Poze do Rodo revela ligação com Comando Vermelho
No Rio, é praxe que presos recém-detidos sejam questionados sobre eventual vínculo com facções criminosas
atualizado
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Preso pela Polícia Civil no Rio de Janeiro, o funkeiro Marlon Brandon Coelho Couto Silva, mais conhecido como MC Poze do Rodo, apontou para a polícia, logo após a detenção, que é ligado ao Comando Vermelho (CV). A revelação, segundo os relatos, ocorreu durante o procedimento padrão adotado por agentes antes da transferência de detidos ao sistema penitenciário do estado.
No Rio, é praxe que presos recém-detidos sejam questionados sobre eventual vínculo com facções criminosas. O objetivo da prática, conforme explicam fontes ouvidos pela coluna, é evitar confrontos e execuções nas unidades prisionais, historicamente dominadas por diferentes grupos criminosos. A identificação prévia da facção à qual o preso afirma pertencer orienta a escolha do presídio, medida vista como necessária para resguardar a integridade física dos internos.
De acordo com nota enviada à coluna pela Secretaria de Estado de istração Penitenciária (SEAP), Poze foi encaminhado para uma unidade associada ao Comando Vermelho. “A Secretaria de Estado de istração Penitenciária (SEAP) informa que Marlon Brandon Coelho, conhecido artisticamente como MC Poze do Rodo, encontra-se custodiado na Penitenciária Dr. Serrano Neves (Bangu 3A)”, diz o comunicado.
A Penitenciária Dr. Serrano Neves, no Complexo de Gericinó, é reconhecida nos bastidores do sistema prisional como uma das unidades sob influência do CV. A alocação do cantor nesse presídio, portanto, vai ao encontro do que preveem os protocolos do sistema penitenciário do estado.
Investigação
Conforme a coluna noticiou a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (PCERJ) abriu uma investigação para identificar e localizar os homens que aparecem exibindo armas de uso em vídeos gravados durante um evento que contou com uma apresentação do MC Poze do Rodo, na Cidade de Deus, bairro da Zona Oeste do RJ, no sábado (17/5).
Nas imagens que circulam nas redes sociais, os homens dançam e apontam os fuzis para o alto em meio a multidão.
Vários registros diferentes são compartilhados nas redes. Em um dos vídeos, é possível ver dois fuzis sendo exibidos. Não é possível identificar, no entanto, quantas armas foram levadas ao evento, uma vez que diversas filmagens circulam na internet.
As imagens foram gravadas no evento que ocorreu na véspera da operação deflagrada na segunda-feira (19/5) para fiscalizar uma produção de gelo suspeito. Na ação, um policial civil foi morto.
José Lourenço, da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), foi baleado na cabeça e chegou a ser levado em estado grave ao Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, mas não resistiu aos ferimentos.
Letras e apologia
MC Poze é um dos principais nomes do chamado “funk proibidão”, subgêneros marcados por letras que retratam e, em muitos casos, enaltecem, a realidade das favelas e a atuação de facções. Em trechos de músicas como “Me Sinto Abençoado” e “CV, CV, é mais um dia de luta, nós vamo traficar”, o artista faz menção direta ao Comando Vermelho.
A naturalização de termos associados ao tráfico nas composições de Poze tem dividido opiniões no meio artístico e jurídico. Enquanto parte do público defende a liberdade artística e o retrato cru da realidade das favelas, promotores e agentes de segurança pública afirmam que a influência de artistas com grande alcance pode fortalecer o poder simbólico de organizações criminosas.