Líder de facção troca de lugar com sósia e foge da prisão no Brasil
Juancho é apontado como líder da facção Banda de Juancho, que domina áreas estratégicas de mineração de ouro no estado de Bolívar
atualizado
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O venezuelano Juan Gabriel Rivas Núñez (foto em destaque), de 43 anos, conhecido como “Juancho”, protagonizou uma fuga cinematográfica em Boa Vista (RR), após enganar o sistema de monitoramento eletrônico com a ajuda de um sósia. Considerado um dos criminosos mais perigosos da Venezuela, Juancho é apontado como líder da facção Banda de Juancho, que domina áreas estratégicas de mineração de ouro na Venezuela.
A fuga foi descoberta em 10 de maio deste ano, quando equipes da Central de Monitoramento Eletrônico (CME), da Secretaria de Justiça e Cidadania de Roraima (Sejuc), compareceram à casa de Juancho, localizada no bairro Paraviana, uma das áreas mais nobres da capital.
O objetivo da visita era substituir a tornozeleira eletrônica, que o venezuelano deveria estar usando como condição para o cumprimento da prisão domiciliar.
Ao chegarem ao imóvel, os agentes encontraram outro homem, com características físicas semelhantes às de Juancho, utilizando o equipamento de monitoramento.
A cena levantou suspeitas imediatas e, após verificação minuciosa, foi constatado que Juancho havia fugido, deixando o sósia para manter as aparências. Antes mesmo de a fraude ser formalmente descoberta, o cúmplice também desapareceu, sem deixar rastros.
A Sejuc informou que as autoridades locais comunicaram a fuga à Polícia Federal, à Vara de Execuções Penais e ao Supremo Tribunal Federal (STF), que já havia autorizado a extradição de Juancho para a Venezuela.
A Polícia Federal instaurou inquérito para investigar a fuga, apurando possíveis crimes como falsidade ideológica e fraude na execução penal. A Corregedoria da Sejuc também acompanha o caso, assim como a empresa responsável pelo fornecimento e monitoramento das tornozeleiras eletrônicas.
Império criminoso
Na Venezuela, Juancho comanda uma das maiores organizações criminosas do estado de Bolívar, com atuação direta em minas ilegais de ouro, especialmente na região de Las Claritas. Ele é investigado por uma série de crimes graves, incluindo homicídios, tráfico de armas, extorsão e ataques a comunidades indígenas, como o violento confronto com o povo Arawako, registrado em 2022.
Segundo as autoridades venezuelanas, o chefe criminoso também utilizava duas identidades falsas para escapar da polícia. Por conta de sua atuação internacional, seu nome foi incluído na lista de foragidos da Interpol.
A prisão de Juancho no Brasil ocorreu em novembro de 2023, em Boa Vista, após investigação da Superintendência da Polícia Federal em Roraima. Desde então, ele aguardava extradição, cujo pedido foi formalizado pelo governo venezuelano e deferido em abril de 2025 pelo ministro Nunes Marques, do STF.
A decisão determinava condições específicas para a entrega, como a garantia de que Juancho não seria submetido a prisão perpétua, vedada pela legislação brasileira, e o respeito ao limite máximo de 30 anos de reclusão.
Apesar de inicialmente ter ficado detido na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), Juancho obteve a conversão da prisão preventiva em prisão domiciliar, com monitoramento eletrônico, em janeiro deste ano. A medida foi tomada pela Justiça de Roraima, após avaliação de que ele apresentava bom comportamento no sistema carcerário.
Porém, a partir de abril de 2025, foram registradas violações no sistema de monitoramento. Ainda assim, o comportamento de Juancho voltou a ser classificado como “regular” e, depois, “bom”, antes da surpreendente fuga que agora o coloca novamente na condição de foragido internacional.
Busca dupla
Agora, as autoridades brasileiras buscam localizar dois foragidos: Juancho e o homem que se ou por ele. A operação mobiliza a Polícia Federal e as forças de segurança de Roraima, enquanto a Justiça avalia eventuais responsabilidades por falhas no sistema de monitoramento.