Diálogo como base: como manter a sinceridade dentro da não monogamia
Psicólogo explica como manter a sinceridade e o diálogo e garantir que um relacionamento não monogâmico seja saudável
atualizado
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Vez ou outra, o assunto de relacionamentos liberais volta à tona. Entre as dúvidas que comuns a esse respeito, uma das maiores questões é como manter a saúde mental em um relacionamento com esse tipo de dinâmica.
Para começar a entender “como não pirar” com os ciúmes, por exemplo, é importante ressaltar que o fato de o relacionamento ser liberal não está relacionado à “bagunça” ou falta de regras – muito pelo contrário.
Uma pesquisa do aplicativo Gleeden revelou que 53% dos brasileiros já tiveram algum tipo de relação não monogâmica, 51% consideram a não monogamia um relacionamento aberto, e 42% enxergam a não monogamia como algo positivo.
Em relação aos desafios, 89% dos participantes no Brasil dizem enfrentar pelo menos uma barreira ao se depararem com a não monogamia. Entre os principais obstáculos apontados, estão o estabelecimento de respeito e limites (41%), as questões éticas e crenças pessoais (54%) e a comunicação eficaz (38%).
Marcos Torati, psicólogo, professor e mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, destaca que nas relações não monogâmicas, o conceito de “traição” deixa de estar relacionado ao envolvimento sexual com um terceiro.
“O pilar da sobrevivência de uma relação não monogâmica é a manutenção da sinceridade. Ela consiste em expressar genuinamente os próprios desejos, pensamentos, sentimentos e as intenções para que o parceiro(a) possa ter a liberdade de escolha em relação às regras do relacionamento, podendo ele(a) consentir ou não compactuar com determinada regra ou conduta”, comenta.
Diálogo aberto
A manutenção do diálogo é uma tentativa de se estabelecer a compreensão individual para que possa haver uma cooperação mútua dentro do relacionamento.
“Afinal, se relacionar exige uma renúncia parcial das próprias satisfações individuais para que seja possível preservar a parceria e o bem-estar do outro”, destaca o profissional.
Marcos acrescenta que a comunicação íntima abre espaço para a entrega da própria vulnerabilidade ao parceiro.
“A entrega afetiva é a essência do amor e da conexão amorosa, confere valor inestimável a ambos os parceiros. É a raiz do temor de perder o outro e da angústia de ver a relação esvair-se na banalidade.”
América Latina
Segundo o levantamento, o Brasil se destaca na pesquisa por apresentar os menores índices de prioridade à honestidade e abertura na comunicação sobre outras relações em contextos não monogâmicos.
Enquanto Argentina (78%), México (76%) e Colômbia (71%), onde a pesquisa também foi realizada, demonstram uma forte inclinação para esse tipo de diálogo transparente, o Brasil fica atrás, com 64%.
Quando a pergunta se inverte e aborda a recepção de informações sobre as relações do parceiro, os números se mantêm elevados, especialmente na Argentina e na Colômbia (74%). O Brasil, por outro lado, apresenta um índice mais baixo (66%), embora ainda superior ao do México (63%).