Sobrepreço de R$ 62 milhões em escavadeiras faz Dnocs cancelar pregão
Grande volume de envio de emendas ao Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) motivou auditoria da CGU nas licitações do órgão
atualizado
Compartilhar notícia

A Controladoria-Geral da União (CGU) identificou um sobrepreço de R$ 62 milhões em edital do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs). Após o alerta, o Dnocs revogou a licitação que previa gastar R$ 966 milhões na compra de maquinários, escavadeiras, caminhões, carregadeira e implementos agrícolas. O órgão foi procurado pela coluna, mas não houve retorno.
A CGU apontou na auditoria “um conjunto de falhas” que resultaram no sobrepreço de três dos 22 equipamentos listados. Os principais erros estavam na pesquisa de preço e especificação do material inicialmente licitado:
- Motoniveladora (R$ 38,4 milhões);
- Escavadeira hidráulica (R$ 13,9 milhões);
- Caminhão guindauto (R$ 9,8 milhões)
Os trabalhos da CGU foram realizados entre os dias 15 de novembro e 4 de dezembro do ano ado. O Dnocs suspendeu o edital no dia 25 de novembro, ou seja, dois dias antes de realizar o pregão eletrônico. Por fim, em 1º de abril deste ano, o órgão anunciou que as compras estavam revogadas, sob justificativa de “alterações substanciais no objeto da licitação”.
A autarquia responsável pelo semi-árido brasileiro se comprometeu a publicar um novo edital após análise da CGU.
Queda de quase 15%
Na prática, a partir das recomendações da CGU, o Dnocs revisou a pesquisa de preço de referência dos 22 itens e fez uma nova cotação, que resultou num montante 14,9% mais barato, quando comparado ao valor inicialmente orçado.
“Considerando todos os preços novos do edital a economia obtida nos preços de referência totaliza R$ 144.706.575,94, que corresponde a 14,98% do valor do edital originalmente ofertado, de R$ 966.232.031,30”, destacou a auditoria da CGU.
Emendas parlamentares
Segundo a CGU, o trabalho de avaliar o edital surgiu pela “necessidade de avaliar a ampliação da utilização do Sistema de Registro de Preços (SRP) pelo Dnocs para a contratação de equipamentos, em decorrência do aumento da destinação de recursos, inclusive de emendas parlamentares, para esse tipo de aquisição”.
Assim como a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), o Dnocs também é um dos órgãos prediletos de congressistas para o envio de emendas parlamentares.
Com essas rubricas, deputados e senadores têm abastecido redutos eleitorais – prefeituras sob suas influências – com tratores, maquinários e financiamento de obras.
Codevasf e Dnocs, inclusive, estão na mira da Polícia Federal, CGU e Ministério Público Federal (MPF), que investigam vários escândalos de corrupção envolvendo agentes públicos e empresas.
Conforme mostrou o colunista Fábio Serapião, do Metrópoles, com o dinheiro de emendas, o Dnocs saiu de zero para R$ 1,2 bilhão em obras de pavimentação em menos de três anos.
O que diz o Dnocs
Procurado, o Dnocs não respondeu.