Era Trump: onda de boatos aumenta medo entre brasileiros nos EUA
Grupos de WhatsApp da comunidade brasileira em Massachusetts estão sendo inundados por alarmes falsos sobre operações contra imigrantes
atualizado
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A sensação de que podem ser expulsos dos Estados Unidos a qualquer momento assusta brasileiros que vivem em Massachusetts, estado norte-americano que, historicamente, sempre teve a reputação de acolher bem os estrangeiros. O medo tem alimentado a disseminação de notícias falsas em grupos de WhatsApp e, muitos imigrantes, estão optando por não sair de casa.
Desde a posse de Trump, uma verdadeira enxurrada de vídeos e mensagens falsas ou a chegar via smartphones, provocando pânico nas pessoas. São vídeos antigos que mostram homens sendo presos nas ruas de cidades norte-americanas. Os indocumentados, como são chamados os imigrantes que não têm autorização de permanência, estão deixando de ir trabalhar e, até mesmo, de comparecer em hospitais para dar continuidade a tratamentos médicos.
Um gerente de projetos de uma empresa que atua no ramo de reforma de prédios disse que quatro prestadores de serviço, todos eles indocumentados, deixaram de ir trabalhar nesta quinta-feira (30/1), por medo de uma suposta blitz do Immigration and Custons Enforcement (ICE), o serviço de imigração dos Estados Unidos, que estaria acontecendo na cidade.
O gerente, um capixaba de 40 anos, que, mesmo estando legal no país preferiu não se identificar, mora com a mulher, natural de Governador Valadares (MG), e cinco filhos, há 17 anos em Massachusetts. Eles imigraram para a América do Norte após a esposa dele ser contemplada em uma loteria do Green Card. Atualmente, vivem na cidade de Malden, na região de Boston.
“Aqui está todo mundo aterrorizado. Tem gente que não está mandando filho para escola. Tem uma mulher que vive aqui há 22 anos e está em tratamento de câncer e disse que não vai mais ao hospital por medo de ser presa. Tem vários digitais influencers que estão tocando o terror. Eles filmam qualquer carro de polícia na rua dizendo que é operação do ICE. As pessoas não querem sair de casa. Mal saem para trabalhar e estão evitando até supermercados brasileiros”, relatou o imigrante.
O brasileiro também faz parte de uma comunidade católica na cidade de Somerville, que realiza um trabalho de acolhimento a imigrantes que am por dificuldades. Segundo o gerente brasileiro, os fiéis ainda não pararam de frequentar as atividades da igreja e o atendimento aos imigrantes ainda está acontecendo. No entanto, já há preocupação com uma possível ação do ICE na comunidade religiosa e os líderes avaliam o cancelamento de um evento maior que aconteceria no próximo dia 15.
“Não saio de casa”
Um outro brasileiro, de 56 anos, natural de Governador Valadares, confirma que os boatos estão aumentando a angústia dos imigrantes. Residente em Gardner, uma cidade do estado de Massachusetts, ele migrou há duas décadas, pelo México, e hoje tem uma companhia de fabricação de móveis de madeira.
O valadarense, que preferiu não se identificar por ser indocumentado, disse que trabalha em casa e tem evitado sair. “Não estou saindo. Períodos assim são de muito terror. Os próprios brasileiros começam a postar vídeos, colocar notícias falsas falando de prisões que não aconteceram. Eu fico em casa para não arriscar”, lamentou.
Uma mulher, de 43 anos, natural de Ipatinga (MG), que mora nos Estados Unidos há mais de 20 anos com o marido e a filha, conta que está vivendo em estado de suspensão. “Sabe quando parece que a ficha ainda não caiu? Tenho medo, mas só vou saber como reagir se realmente acontecer. Se chegasse a notícia de que meu marido foi preso, não sei qual seria a minha reação, além de chorar muito”, disse.
A imigrante também reclamou da quantidade de notícias falsas em circulação e reconheceu que, na tentativa de ajudar, acabou reando a imagem de um acidente espalhada como se fosse uma operação do serviço de imigração. “Toda hora chega um áudio com orientações ou alertas falsos, isso está aumentando o medo entre os indocumentados”, afirma. Até agora não há notícias de prisões de brasileiros sem documentação no estado.
