Falas de Lula sobre Gaza escancaram crise entre Brasil e Israel
No início desta semana, Lula voltou a chamar de “genocídio” as operações militares conduzidas por Israel na Faixa de Gaza
atualizado
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As manifestações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no início desta semana, escancararam, ainda mais, a crise vivida por Brasília e Tel Aviv. Em duas ocasiões diferentes, o líder brasileiro voltou a classificar as ações israelenses na Faixa de Gaza como “genocídio” – e provocou uma resposta pública por parte da representação diplomática de Israel no Brasil.
Tensão Brasil x Israel
- Desde que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu a presidência, a relação entre Brasil e Israel tem vivido momentos de tensão.
- De um lado, Israel acusa o governo brasileiro de ter posturas pró-Hamas. Do outro, Lula tem feito críticas quanto à atuação israelense na Faixa de Gaza, onde mais de 50 mil pessoas já morreram.
- O ápice da crise aconteceu em fevereiro de 2024, quando Lula comparou as ações de Israel na Faixa de Gaza com o Holocausto de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
- Depois da repercussão negativa da fala, o presidente brasileiro foi declarado persona non grata em Israel. Em retaliação, Lula retirou o embaixador do Brasil em Tel Aviv, dando assim menos peso na relação diplomática dos dois países.
- Existe ainda o temor, por parte de Israel, de que o país fique sem um embaixador no país. Isso porque o governo brasileiro ainda não aprovou o nome do embaixador Gali Dagan, indicado para chefiar a missão diplomática em Brasília.
Em 1º de junho, o presidente brasileiro esteve no Recife cumprindo agenda oficial e aproveitou o momento para criticar o anúncio de novos assentamentos israelenses na Cisjordânia ocupada – considerados ilegais por grande parte da comunidade internacional.
Depois de ler uma nota do Ministério das Relações Exteriores, Lula voltou a classificar a ofensiva de Israel contra o Hamas – que atinge, inevitavelmente, palestinos – como “genocídio”.
A fala do líder brasileiro aconteceu após acusações de um tiroteio próximo à um centro que distribuía ajuda humanitária em Rafah, no sul de Gaza. Na ocasião, 23 palestinos foram mortos enquanto buscavam comida, segundo informações do Crescente Vermelho Palestino, afiliado à Cruz Vermelha Internacional.
Segundo autoridades do enclave palestino, sob o domínio do grupo extremista Hamas, as Forças de Defesa de Israel (FDI) teriam sido os responsáveis pelo ataque. O que é negado pelo governo de Benjamin Netanyahu.
Diplomacia quebra silêncio
Ao subir o tom contra o governo de Benjamin Netanyahu, Lula fez com que o silêncio da diplomacia israelense fosse quebrado após meses. Apesar das recentes declarações críticas à Israel, a diplomacia do país vinha adotando uma postura de não rebater as condenações brasileiras publicamente. Cenário que mudou na segunda-feira (2/6).
Em um comunicado, a Embaixada de Israel no Brasil disse ser “importante esclarecer as coisas” diante das críticas internacionais recentes – como as que partem do governo Lula. Na nota, a chancelaria israelense ainda culpou o Hamas por iniciar o conflito, e negou que militares das FDI têm “a intenção de prejudicar pessoas não envolvidas” na guerra.
Por isso, o governo israelense classificou como falsas as alegações de que tiros haviam sido disparados contra palestinos em busca de ajuda em Gaza.
“Infelizmente, tem quem compre essas mentiras, que estão prejudicando israelenses e judeus no Brasil e no mundo todo”, disse um trecho do comunicado oficial.
Ao ser questionado se responderia a declaração, Lula afirmou que presidentes “não respondem a embaixadas”. Além de reiterar o que já havia dito no fim de semana, o presidente do Brasil ainda classificou como “vitimismo” as acusações israelenses sobre antissemitismo após as críticas pela violência em Gaza.
Veja:
Ao Metrópoles, fontes diplomáticas israelenses afirmaram que, apesar de a declaração ter sido divulgada após as críticas de Lula, a manifestação falava sobre o caso em Rafah. O mesmo que levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a pedir uma investigação independente das acusações.
“O que ficou pelo caminho é que o motivo da nota era responder à alegação específica de que o exército atirou e matou pessoas buscando ajuda humanitária”, disse um interlocutor que pediu anonimato.