Fenômeno Trump: como o Partido Democrata desenha oposição ao governo
Trump assumiu seu segundo mandato na presidência dos EUA em um cenário extremamente favorável, com maioria no Congresso e na Suprema Corte
atualizado
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assumiu o seu segundo mandato com um cenário extremamente favorável. O Partido Republicano tem maioria na Câmara e no Senado, além de lidar com uma Suprema Corte de maioria conservadora, o que garante a ele maior goverabilidade. No entanto, os democratas começam a estruturar sua base opositora, apertando a primeira votação no Congresso dos EUA.
Na Câmara, os republicanos têm 218 assentos frente aos 215 democratas. No Senado, os republicanos são 53, os democratas 45 e os independentes são dois. O cenário configura-se como uma maioria pequena, permitindo que a oposição dificulte a aprovação de agendas.
É importante destacar que no meio do mandato de Trump, em 2026, serão feitas votações para metade dos assentos da Câmara, o que pode garantir uma maioria democrata.
“O Senado continua com a minoria [democrata], mas na Câmara dos Estados, se eles recuperarem essa maioria, conseguem barrar uma série de projetos e de políticas trumpistas nesse período. Ao mesmo tempo, eles conseguiram lançar as suas”, explica o especialista em relações internacionais Emanuel Assis Aleixo de Franco.
Republicanos não trumpistas podem ser a solução
O doutorando em Relações Internacionais e especialista no Partido Democrata, Franco explica que o Partido Democrata tem demonstrado dificuldades em se unir. Isso “porque uma parte de esquerda se recusa negociar, mas outra parte dos democratas moderados acredita que o caminho pera por negociar com os republicanos moderados dentro da Câmara dos Deputados e do Senado”, contextualiza o especialista. Segundo ele, é “tentar traçar alianças entre o Partido Democrata e esses membros mais moderados para tentar barrar as medidas mais extremistas, mais radicais do Donald Trump nesse segundo mandato”.
O especialista destaca que, até o momento, essa estratégia tem se mostrado infrutífera, de alguma maneira, e tem gerado uma certa desesperança em boa parte dos democratas que estão eleitos para esses próximos anos no Congresso.
“Fontes internas apontam que essa busca por essa aliança não tem dado certo. O presidente Trump tem conseguido cativar todos os setores do Partido Republicano de alguma maneira e tem conseguido controlar esses membros com mais vigor e com mais articulação do que ele conseguiu, por exemplo, no primeiro mandato, principalmente ali a partir da segunda metade, quando entra pandemia e alguns membros do Partido Republicano começam a se opor às políticas do Trump”, destaca Emanuel Assis.
O internacionalista ressalta que alguns senadores democratas têm dialogado com senadores republicanos para fazer uma reforma no sistema imigratório americano. Para Emanuel Assis, isso mostra que “até mesmo dentro do Partido Democrata, há um certo alinhamento com algumas políticas de Trump, não de maneira tão radical, mas que colocam os democratas para negociarem”.
Emanuel Assis ressalta que a situação dos democratas, ainda assim, é díficil. “Trump conseguiu diminuir drasticamente a divisão interna no Partido Republicano, inclusive elegendo muito mais membros trumpistas do que moderados nesse segundo mandato”, explica.
O especialista destaca que os democratas vão fazer obstruções durante as votações, e tentar, de fato, deixar as votações correrem o mais lentamente possível, para tentar diminuir o fluxo de políticas trumpistas pelo Congresso. “Nesse meio tempo, os democratas tentariam apresentar uma agenda para recuperar a maioria na Câmara”, acredita.
Consenso democrata
Segundo Emanuel Assis, os democratas podem até discordar em estabelecer negociações com republicanos, mas chegam em consenso quando o assunto é denunciar as ações econômicas de Trump, com as taxações de outros países, por exemplo.
“Essa série de tarifas protecionistas que o próprio Trump tem aplicado, a partir do slogan Make America Great Again, pode aumentar bastante a inflação nos Estados Unidos. Inclusive o preço de alguns insumos básicos já começaram a aumentar, e os democratas vão apostar nessa linha de denúncia, uma vez que a istração já tem começado a mostrar fragilidades nesse sentido”, afirma o especialista.
O internacionalista destaca uma segunda linha que os Democratas estão apostando: a jucial.
“A maioria das medidas que estão ando nesse primeiro mês e meio vem de ações executivas. Então, não são leis propriamente ditas, não foram votadas pelo Congresso. Logo, elas são colocadas na Justiça. Muitos procuradores democratas, grupos, articulações de política, políticos e apoiadores democratas têm levado à Justiça as medidas de Trump“, explica Emanuel.
Ele ainda lembra que algumas ações executivas foram revertidas temporariamente, como o cancelamento do direito à cidadania por nascimento, que é algo que é previsto na Constituição dos EUA. “Cerca de 22 governadores democratas entraram com ação na Justiça para reverter o cancelamento, e eles conseguiram parcialmente”.
O especialista explica que a estratégia de judicializar tem sido amplamente escolhida pela oposição. “Levar essas ações executivas à Justiça e revertê-las, mesmo que temporariamente, garante tempo, pelo menos até as eleições de meio de mandato, para tentar reverter a minoria no Congresso e aí barrar, de fato, as agendas do governo Trump”, contextualiza.