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O Ministério da Defesa da Síria anunciou nesta segunda-feira (10/3) o fim da operação militar lançada na Síria contra combatentes alauítas leais ao ex-presidente Bashar al-Assad, após confrontos que deixaram centenas de mortos.
O presidente interino, Ahmed al-Chareh, anunciou nesse domingo (9/3) a formação de uma comissão independente para investigar o massacre de cerca de mil pessoas no oeste do país, após combates entre as forças do novo governo e as milícias pró-Assad.
Em comunicado publicado na rede social X, Hassan Abdul Ghany, porta-voz do Ministério da Defesa, garantiu que as instituições públicas “agora podem voltar ao trabalho e prestar serviços essenciais”.
“Estamos abrindo caminho para um retorno à vida normal e a consolidação da segurança e da estabilidade”, disse. Ele acrescentou que novas medidas foram implementadas contra os combatentes que apoiam Assad.
Os confrontos que culminaram na morte de centenas de pessoas foram denunciados pela comunidade internacional, que teme a retomada dos combates, após mais de dez anos de guerra civil no país.
De acordo com uma contagem do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, uma organização sediada em Grã-Bretanha, 745 civis, incluindo mulheres e crianças, 125 membros das forças de segurança sírias e 148 combatentes pró-Assad morreram desde quinta-feira.
Grupos leais ao ex-presidente Bashar al-Assad sequestraram e executaram mais de uma centena de combatentes, antes de tentarem retomar o controle de hospitais e bases militares, segundo o jornal francês Le Figaro.
O jornal Le Monde destaca a tentativa das forças do governo provisório para conter a rebelião lançada por partidários do antigo regime, destituído do poder em 8 de dezembro de 2024.
Julgamento
Os confrontos dos últimos dias podem desestabilizar a tentativa de coexistência pacífica na Síria, prometida pelo presidente interino, Ahmad al-Chareh, desde que chegou ao poder. Em um discurso, ele prometeu “levar a julgamento todos os que derramaram sangue” e “ameaçaram o povo”.
O novo líder sírio também parabenizou as Forças Armadas por “sua reação eficaz”. Porém, segundo analistas, o massacre contra civis alauítas pode “semear um vento de contestação entre as minorias do país”, destaca o Le Figaro.
Em uma mensagem vídeo, al-Chareh garantiu que “ninguém [estava] acima da lei”. “Vamos exigir responsabilidade a qualquer pessoa envolvida no massacre e nos maus-tratos a civis e de qualquer pessoa que exceda a autoridade do Estado ou abuse do poder para fins pessoais”, disse ele.
“Hoje, estamos diante de um novo perigo: a tentativa de combatentes remanescentes do antigo regime e de apoiadores, que visam gerar novos conflitos e levar nosso país para uma nova guerra civil”, acrescentou o ex-líder do grupo islâmico armado Hayat Tahrir al-Sham, que tirou Assad do poder.
As divisões entre as diferentes comunidades locais representam um grande desafio para Damasco, destaca o jornal Libération. De acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), citado pelo diário, mais de 1300 pessoas morreram nos últimos dias.
Segundo Libération, manter a unidade do país está entre as prioridades e os maiores desafios do novo governo sírio, já que esse “aumento da violência ameaça a frágil legitimidade construída nos últimos três meses”.
Comunidade internacional reage a massacre
Washington e Moscou pediram uma reunião a portas fechadas no Conselho de Segurança das Nações Unidas nesta segunda-feira para discutir a situação.
O ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Noël Barrot, condenou em uma mensagem no em X “abusos inaceitáveis” contra civis. “Não pode haver impunidade para os culpados desses crimes”, disse ele.
Após três meses de relativa calma após a queda do Bashar al-Assad, que fugiu para a Rússia após sua destituição em dezembro, a situação piorou nesta semana nas províncias de Latakia e Tartus, onde forças ligadas aos novos líderes islâmicos foram mobilizados para reprimir o início de uma insurreição de milícias leais ao ex-presidente.
Leia a reportagem completa no RFI, parceiro do Metrópoles.