Professora lamenta alunos sem aula em Gaza: “Educação parou”
Pequenas iniciativas tentam manter nível de aprendizagem em Gaza, mas recursos e segurança são quase inexistentes. Trabalho infantil aumenta
atualizado
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A semana ada deveria marcar o início do novo ano escolar na Palestina. Porém, em Gaza, 625 mil crianças em idade escolar entram em mais um período letivo sem o a aulas, com o direito à educação negado por conta da guerra Israel-Hamas. Mais de 45 mil crianças de seis anos deveriam começar a escola este ano. De acordo com o Ministério da Saúde do território, 25 mil crianças em idade escolar foram mortas ou feridas na guerra.
“A educação parou totalmente desde 7 de outubro e o futuro ainda não está claro”, afirmou a professora Asma Mustaf ao The Guardian. Ela lecionava em uma escola secundária para meninas na Cidade de Gaza antes da guerra.“Não há nenhuma visão de como começaremos novamente porque ainda estamos sob ataque. Tudo e todos são alvos – as tendas, os abrigos, as escolas, as ruas. É uma situação muito perigosa.”
Desde de 7 de outubro, há 11 meses, quase toda a população de Gaza, de 2,3 milhões de pessoas, foi deslocada de suas casas.
Escolas e universidades se tornaram abrigo. Cerca de 90% dos 307 prédios de escolas públicas de Gaza e todas as 12 universidades foram danificados ou destruídos em ataques israelenses, afirma o Education Cluster, uma coleção de grupos de ajuda liderados pela Unicef e Save the Children.
Quanto mais tempo escolar as crianças perdem, mais difícil se torna recuperar o aprendizado perdido. As crianças em países afetados por conflitos têm 30% menos probabilidades de concluir o ensino primário, segundo a Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
Além disso, o desenvolvimento cognitivo, social e emocional das crianças mais novas é prejudicado: meninas têm mais probabilidade de se casar em idades mais jovens e meninos são forçados a trabalhar ou a se juntarem ao exército.
Trabalho infantil
De acordo com a professora Asma Mustaf, ouvida pelo The Guardian, muitas crianças agora trabalham ou ajudam suas famílias a encontrar suprimentos básicos, como comida.
Yara al-Shawa, de 22 anos, havia conquistado, em setembro ado, uma bolsa integral para um programa de mestrado em direito dos direitos humanos no Catar. Entretanto, por conta do bloqueio israelense, ela e seus irmãos em idade escolar am o dia tentando manter a família viva. Ela conta que o irmão mais novo, de 15 anos, assume responsabilidades que nenhum adolescente deveria ter: reunir suprimentos, buscar água e cuidar das necessidades da casa.
“A escola é uma lembrança distante para ele agora. Ele foi forçado a crescer rápido demais nessas circunstâncias”, lamentou Yara al-Shawa ao jornal britânico. “Sempre fico impressionada com o quanto ele mudou. Ele não é mais pequeno. A guerra roubou nosso futuro. O que antes pareciam sonhos realizáveis – eu me tornando advogada, meu irmão terminando a escola – agora parecem fantasias.”
Programa de “retorno ao aprendizado”
No mês ado, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (Unrwa), lançou um programa de “retorno ao aprendizado” em 45 abrigos em toda a faixa de Gaza. A iniciativa inclui jogos, teatro, artes, música e atividades esportivas, com o objetico de diminuir o impacto da guerra na saúde mental das crianças.
Para a professora Asma, o programa da Unrwa é bem-vindo, porém muito mais precisa ser feito. “Há apenas um limite para o que as organizações locais ou internacionais podem fazer quando, às vezes, cinco cadernos custam US$ 50”, disse ela. “Não há lugar seguro, escolas e abrigos são alvos. Esses desafios não podem ser resolvidos, exceto pelo fim da guerra.”