Taxa de transmissão da Covid-19 no DF é de 1,4. Entenda o que significa
Coeficiente mede quantas pessoas um paciente contaminado infecta e é usado como base para decidir a flexibilização do distanciamento
atualizado
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Existem várias maneiras de medir a força e a propagação de uma epidemia, assim como projetar futuros cenários. Uma das mais conhecidas e usadas para verificar a situação do novo coronavírus é a chamada taxa R. A estatística mostra quantas pessoas um paciente infectado é capaz de contaminar.
Para chegar ao número, os pesquisadores usam dados atuais de casos confirmados e óbitos registrados e cruzam com informações de semanas adas, chegando ao número R de duas ou três semanas atrás.
Cada doença tem um R diferente. O sarampo, considerado uma das doenças mais contagiosas, tem um número de 15 em locais onde a população não está imunizada. Por isso, quando há um surto de sarampo, muitas pessoas são afetadas rapidamente.
O coronavírus, por ser uma doença nova, não tem um R fixo: depende de como a população está se protegendo, das medidas de isolamento social, do uso de máscaras, da adoção de medidas sérias de higiene. No começo da epidemia no Brasil, quando não se tomava nenhuma precaução, o R era de 3,5. Agora, chegou a 1,37.
Apesar de parecer uma melhora significativa, pesquisadores afirmam que um R acima de 1 ainda é preocupante: se uma pessoa ainda contamina pelo menos uma outra, o número de casos tende a crescer exponencialmente. Se a taxa fica abaixo disso, não há novos casos suficientes para que a epidemia continue e a curva começa a cair.
Na última quinta-feira (04/06), o Ministério da Saúde divulgou, pela primeira vez, um levantamento da Organização Pan Americana da Saúde (Opas) com a taxa R para cada uma das unidades federativas brasileiras. A média dos estados está na faixa de 1,3 – o Distrito Federal, por exemplo, está em 1,4, enquanto São Paulo, o local mais atingido pela epidemia por enquanto, tem 1,3. O Amazonas tem 1,1. Nenhum estado está abaixo de 1.
Técnicos do Ministério da Saúde afirmam que estados com mais de 1,6 preocupam a pasta: Acre, Bahia e Goiás ultraam a marca. O estado com maior taxa de reprodução é o Ceará, com 2,4.
Isolamento social
Nos países europeus, que precisaram lidar com o coronavírus algumas semanas antes do Brasil, a taxa R é algo acompanhado de perto: alguns governos baseiam as medidas de flexibilização no número.
Um dos principais problemas com o índice é que ele não leva em conta os pacientes que não foram testados mas têm a doença, ou os que morreram mas ainda não tiveram as amostras recolhidas para exame, ou, ainda, os que os resultados não são conhecidos.
“É uma medida válida, mas é uma estimativa. Na vida real, temos uma variação: a pessoa pode estar em um ambiente aberto ou fechado, com 10 pessoas, ou com 100. Quando se fala em um índice R de dois, três, a contenção tem que ser mais enérgica, às vezes até se indica o famoso lockdown“, explica Werciley Junior, infectologista e chefe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Santa Lúcia.
No caso de uma taxa R de 1,4, como é o caso do DF, o especialista afirma que, neste momento, a educação da população é o que mais conta. Adotar a máscara, a higiene das mãos, a etiqueta respiratória e manter um distanciamento de pelo menos 2 metros de outras pessoas são medidas que devem ser levadas à risca.
“Estamos em transmissão sustentada no DF. Aprendemos que, se a taxa for de 1 ou menos, a transmissibilidade está se limitando e a curva de contágio está, finalmente, descendo”, ensina o infectologista.
Quando a taxa for menor do que 1, as medidas de isolamento social devem começar a ser flexibilizadas. Abrir tudo de uma vez, ou liberar apenas as escolas, por exemplo, podem ser movimentos que façam crescer novamente a taxa. Na Alemanha, o governo decidiu reabrir algumas lojas enquanto estava com R 0,7 e viu o número subir para 0,76 em poucos dias. Na Inglaterra, onde o R está entre 0,7 e 1, o governo está liberando alguns poucos serviços enquanto monitora se o número volta a subir.