Bolsonaro usa voto de Moraes para justificar perdão a Daniel Silveira
Presidente da República justificou, na tradicional live de quinta, decreto de indulto individual concedido ao deputado condenado pelo STF
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) usou a tradicional live semanal, nesta quinta-feira (21/4), para fazer a leitura do decreto de indulto individual ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), assim como as justificativas que o levaram a tomar a decisão.
Ao defender a decisão, o chefe do Executivo se apoiou em votos anteriores dos ministros Gilmar Mendes e do próprio Alexandre de Moraes, relator do processo que condenou o parlamentar a 8 anos e 9 meses de prisão.
Bolsonaro iniciou a transmissão afirmando que “mais importante” do que o caso de Daniel Silveira é “o que isso tudo traz a nós”. Segundo o mandatário da República, o indulto não se direciona somente às penas privativas de liberdade, mas ao afastamento das sanções impostas pela condenação judicial.
O chefe do Executivo defendeu aos apoiadores que o indulto pode, de acordo com ele, ser concedido antes mesmo da condenação criminal e do trânsito em julgado do processo, quando não cabe mais recurso ao réu. “Vez que em uma limitação temporal, na lei maior, esse aspecto fora igualmente abordado no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5874, em que se afastou a inconstitucionalidade do artigo 11 do Decreto 9.246 de dezembro de 2017 que concedia indulto coletivo”, explicou, lendo o documento aos apoiadores.
“Trago aqui a oportuna reprodução das seguintes agens dos votos dos ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, respectivamente”, anunciou Bolsonaro, que em seguida leu a íntegra dos votos dos ministros: “A Constituição Federal não limita o momento em que o presidente da República pode conceder o indulto, sendo possível isentar o autor da punibilidade mesmo antes de qualquer condenação criminal”.
O presidente prossegue com a leitura na íntegra do voto de Moraes: “A despeito do pedido do requerente para declarar a inconstitucionalidade dos incisos 1,2,3 e 4 apenas o 2 foi suspenso. Isto é, suspendeu-se a concessão do indulto na pendência de recurso da acusação, pois a pena ainda pode ser ampliada, o que alteraria o marco de referência para concessão do indulto. Verificamos a possibilidade de se receber o indulto antes do trânsito em julgado. Não há óbice para que seja aplicado antes do trânsito em julgado do processo”.
Confira a íntegra do decreto:
Decreto de 21 de Abril de 2022 – Indulto a Daniel Silveira by Metropoles on Scribd
Entenda
Durante a transmissão, Bolsonaro afirmou que “começou a trabalhar” no decreto ainda ontem, assim que o parlamentar recebeu a condenação da Corte. O chefe do Executivo classificou a “graça constitucional” concedida ao deputado como de “extrema importância para a nossa democracia e a nossa liberdade”.
O julgamento de Silveira no STF ocorreu na tarde dessa quarta-feira (20/4). Ele foi condenado a 8 anos e 9 meses de prisão em regime fechado por estímulo a atos antidemocráticos e ataques a ministros do tribunal e instituições como o próprio Supremo.
Durante o julgamento, o relator do caso, o ministro Alexandre de Moraes, também estabeleceu a perda do mandato e dos direitos políticos de Silveira e uma multa de R$ 200 mil. Nove ministros acompanharam o voto de Moraes. O único a votar pela absolvição do parlamentar foi Kassio Nunes Marques.
O primeiro efeito da condenação é a inelegibilidade. Ela será reconhecida judicialmente se e quando Daniel Silveira pedir registro de uma candidatura. Quanto à perda do mandato, o Supremo, depois do trânsito em julgado da ação, vai comunicar a decisão para a Câmara dos Deputados, onde deve ser procedido o trâmite interno. O presidente Arthur Lira (PP-AL) defende que a perda de mandato seja discuta pelos deputados. A prisão também não ocorre de imediato, porque ainda cabe recurso.
Acusação
Daniel Silveira é aliado de Jair Bolsonaro e dos filhos do presidente. O deputado é acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de coação no curso do processo, incitação à animosidade entre as Forças Armadas e o Supremo Tribunal Federal, e tentativa de impedir o livre exercício dos poderes da União. A PGR defendeu a condenação do deputado.
Durante o julgamento, a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, citou diversos crimes cometidos por Silveira e disse que as falas e ameaças contra instituições foram “vexatórias”, “inaceitáveis” e de “afronta à democracia”.
“Não se pode permitir que a força ou violência contra membros de instituições essenciais possam ser legitimamente concedidas no espaço público. Inviolabilidade do parlamentar não alcança, a despeito dos termos abrangentes, o apelo à violência, declarações carregadas de grave ameaça”, afirmou Lindôra.