Sérgio Malheiros celebra avanço do protagonismo negro: “Fundamental”

Vivendo uma fase intensa e marcada por novos desafios, Sérgio Malheiros tem se destacado em diferentes frentes do audiovisual. Além do sucesso de público e crítica com a série Amor da Minha Vida, no Disney+, ele se prepara para estrear Capoeiras, produção que mergulha na cultura afro-brasileira, e ainda fez sua estreia como diretor no curta Única Saída.

Em uma entrevista exclusiva à coluna Fábia Oliveira, o ator refletiu sobre essa maré criativa, as parcerias marcantes e a importância da representatividade em seus projetos recentes.

Parceria com Bruna Marquezine em cena

No papel de Victor, em Amor da Minha Vida, Sérgio dá vida a um personagem criado por Matheus Souza, com quem já queria trabalhar há tempos.

“Eu sou fã do Matheus. Os roteiros dele são complexos, rápidos, cheios de camadas e têm um humor muito particular. É desafiador como ator, porque exige uma atenção absurda ao ritmo e ao tempo. Você tem que dominar o texto e entender o que está por trás de cada fala”, explicou.

Ao lado de Bruna Marquezine, com quem já dividiu outras experiências na carreira, Sérgio destaca a conexão em cena: “A Bruna é uma parceira muito generosa. Desde os ensaios, ela estava completamente entregue. É uma atriz muito intuitiva, com uma sensibilidade absurda. Isso facilita demais o meu trabalho. A gente tem uma conexão antiga, né? Já fomos irmãos no cinema, já cantamos juntos no Criança Esperança, já andamos de balão com a Xuxa… São muitas memórias que nos conectam.”

Ancestralidade e protagonismo negro

Paralelamente, ele também integra o elenco de Capoeiras, série que traz protagonismo negro e reverência à ancestralidade.

“Esse projeto realiza sonhos que eu carregava desde o início da minha carreira. O primeiro deles é fazer parte de uma série com um elenco majoritariamente negro. Quando comecei na TV, isso parecia algo inalcançável, quase utópico. Ver esse cenário mudar e poder estar inserido nesse processo é emocionante.”

Sérgio contou que seu segundo sonho era protagonizar uma história sobre capoeira, uma paixão que ele carrega desde criança. Ele sempre imaginou como seria contar essa história na tela e acredita que esse é o desejo de todo capoeirista que também é ator — unir essas duas paixões.

“E o terceiro ponto, igualmente importante, é poder falar sobre o candomblé. A capoeira e as religiões de matriz africana estão profundamente entrelaçadas — pela ancestralidade, pela resistência, pela cultura e pelo povo que as criou. Trazer isso pra tela, com verdade e respeito, é uma enorme responsabilidade, mas também um privilégio. ‘Capoeiras’ é muito mais que uma série pra mim — é um ato de amor, de memória e de afirmação.”

Estreia como diretor

Por trás das câmeras, Sérgio também fez sua estreia como diretor com o curta Única Saída, estrelado por Edmilson Filho.

“‘Dirigir sempre foi um desejo antigo. O curta ‘Única Saída’ nasceu de uma conversa despretensiosa com o Edmilson Filho — que é o protagonista — numa mesa de bar. A ideia foi ganhando forma, e quando percebi, já estávamos mergulhados no projeto.”

Sérgio contou que já havia dirigido videoclipes, mas esse foi seu primeiro projeto completo como diretor, o que foi desafiador e gratificante, e aumentou seu respeito por todas as etapas da produção.

“Apesar dessa vontade de dirigir, eu ainda tenho muitos sonhos como ator e sinto que estou vivendo um momento importante na minha carreira diante das câmeras. Então, por enquanto, vou tentando equilibrar essas duas paixões.”

“Ter protagonistas pretos não é só simbólico, é fundamental”

Sobre o protagonismo preto nas novelas da Globo, Sérgio reforça que essa conquista não pode ser ageira:

“Eu estou muito feliz e empolgado com esse movimento. Recentemente, vimos protagonistas negros ocupando os três principais horários de novelas da Globo — isso é algo histórico, e que eu esperei muito tempo pra ver acontecer. Representatividade importa demais. Ver histórias sendo contadas a partir da perspectiva de personagens pretos é transformador, tanto pra quem assiste quanto pra quem atua. As pessoas se reconhecem, se enxergam, se sentem validadas.”

Ele contou que, na infância, as referências de homens negros na TV eram raras, o que dificultava a identificação nas histórias principais e afetava a construção da identidade. Hoje, ele vê um avanço, com mais diversidade e representatividade, mostrando diferentes formas, histórias e possibilidades.

“Ter protagonistas pretos não é só simbólico — é fundamental. E eu espero que esse movimento não seja ageiro, mas parte de uma transformação contínua e estrutural na maneira como a TV brasileira enxerga e retrata o nosso país. E que essa inciativa da Tv Globo seja copiada nas grades de todas as emissoras do país.”

Elogiou Taís Araújo

Apesar da rotina puxada, o ator tem acompanhado o remake de Vale Tudo, estrelado por Taís Araújo, atriz que interpretou sua mãe na estreia na televisão.

“A Taís tá arrasando, como sempre, né? Ela manda bem em tudo que faz, e não tá sendo diferente agora em Vale Tudo. Eu tô numa fase de preparação pra um novo trabalho, então não consigo ver tudo ao vivo, mas graças ao Globoplay eu vou acompanhando quando dá. É muito especial ver ela nesse papel, ainda mais pra mim, que comecei minha carreira com ela interpretando minha mãe. Tenho um carinho enorme por ela, e ver onde ela chegou, com tanto talento e respeito, é inspirador.”

Relação com Sophia Abrahão

Com Sophia Abrahão, parceira dentro e fora das telas, ele celebra 10 anos de relacionamento. A atriz também integra o elenco da série Amor da Minha Vida.

“A Sophia é minha grande parceira de vida. Ter alguém ao lado com quem eu posso dividir tudo — com tanta cumplicidade, respeito e segurança — é um presente enorme. E contracenar com ela em Amor da Minha Vida foi uma experiência muito especial.”

Ele confirma que a vontade de oficializar a união com Sophia Abrahão no civil existe, mas conta que a correria do dia a dia acaba adiando a decisão. Segundo ele, os dois estão super bem, curtindo a rotina a dois e sem pressa para formalizar. “Vai acontecer, com certeza”, garante, mesmo sem uma data marcada.

“Meu maior desafio é sempre o próximo”

Questionado sobre o que ainda o desafia após tantos anos de carreira, Sérgio é direto:

“O meu maior desafio é sempre o próximo. Todo dia ouço uma história e penso: isso precisa ser contado acho que a arte existe porque a realidade, sozinha, não dá conta de tudo que a gente sente. Viver só a minha história não é suficiente pra mim — eu quero ser mais do que eu, quero viver outras vidas, experimentar o que talvez nunca teria coragem na vida real. É como um videogame: cada personagem é uma chance de explorar o mundo por outro olhar, de fazer escolhas que eu, Sérgio, talvez nunca fizesse. E isso me encanta. Ainda tenho muitos sonhos, e enquanto eles existirem, vou seguir contando histórias.”