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Bangu ou Comary? (por Roberto Caminha Filho)

Vamos deixar essa briga de gangs para depois. Só o Brasil não tem treinador.

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Samir Xaud em reunião com outros presidentes de federações
1 de 1 Samir Xaud em reunião com outros presidentes de federações - Foto: Reprodução

O homem está chegando! O mito! O italiano! Carlo Ancelotti — um dos treinadores mais vitoriosos da história do futebol mundial — finalmente aceitou o desafio de tirar o futebol brasileiro dos poleiros do purgatório, onde foi jogado, por seus próprios gestores. E agora, com ares de salvador renascentista do Brasil, será recebido por aqui como se fosse uma fusão de Enzo Ferrari com Nossa Senhora de Aparecida: acelera o jogo e resolve problemas impossíveis…ou será o culpado de todas essas artes que sabemos.

Mas a grande dúvida que paira no ar, entre a fumaça da pizza de muçarela e o aroma da feijoada de domingo, é: Ancelotti vai treinar na Comary ou em Bangu? Os nossos tribunais não dão trégua aos dirigentes da vitoriosa e decente C.B.F. O Presidente da CBF acaba de ser afastado e em seu lugar assume um filho do Sarney, o Fernando. Vamos dar pouca importância a isso porque virão mais notícias da justiça e nenhuma melhorará o nosso futebolzinho chinfrim. Quem nos dera se o Sarnei se chamasse José. Esse nunca perdeu uma.

Sim, porque no Brasil malandro, o futebol se divide em dois polos espirituais: A Granja Comary, em Teresópolis, que é a vitrine paraíso dos cartolas: campos de grama bem verdinhas, clima ameno, suco detox e salas para todos os tipos de entrevistas coletivas e muitas palavras proparoxítonas como “planejamento” e “projetando-se”, sempre errando nas sílabas certas. Já em Bangu, outrora um bairro operário com um clube histórico e vitorioso, um presídio famoso, representa a verdadeira penitência esportiva — onde os erros são pagos com exílio, suor, lágrima e uma feijoada sem “louros” e sem vitórias.

A chegada de Ancelotti está sendo comemorada com aplausos, memes e uma esperança messiânica. O torcedor acredita que, com ele, voltaremos a tocar bola como em 58 e 62, vencer como em 1970, esquecer 82, e dar chapéu no meio-campo como em 2002. Mas para isso, o técnico italiano terá que lidar com a verdadeira escola brasileira de resistência: os bastidores das letras e das imagens confusas da CBF. Tudo isso orquestrado pelo “Cêcê” das torcidas que já se temperam.

E aqui é bom lembrar que essa não é a primeira vez que um europeu de respeito vem colocar ritmo no nosso samba. Nos anos 50, um húngaro chamado Béla Guttmann desembarcou por aqui e, sem cerimônia, colocou o futebol nacional para fazer flexão e reflexão. Guttmann ensinou disciplina, posicionamento, estratégia, colocação de dentaduras, preparo físico e até como segurar o garfo. Dizem que até o garçom das Paineiras, ou a servir com mais tática depois dele.

O legado de Béla Guttmann foi tão eficaz que acabou inspirando a seleção de 1958, comandada por Vicente Feola, indicado por ele, e depois a de 1962. Foi a cura do Complexo de Vira-Lata: deixamos de ser apenas dribladores geniais para nos tornarmos campeões organizados. Guttmann foi o “esporro europeu” que faltava para despertar o craque adormecido no brasileiro. O 4-2-4 variando para o 4-3-3, chegou com o Béla.

Agora, mais de meio século depois, estamos novamente em busca de um novo grito, e ele veio com sotaque italiano. Ancelotti, o homem que conseguiu fazer do Modric um eterno juvenil e do Vini Jr. um novo gênio mundial, assume a missão de transformar o caos criativo do Brasil, em eficiência europeia, sem perder a ginga e a malandragem. Difícil? Claro. Impossível? Quase. Mas já estivemos nessa mesma esculhambação antes. Tomara que o Ancelotti traga a Bota Italiana, bem cascuda, para chutar alguns bumbuns, de garotos milionários que pensam ser Pelé e não am de Chulé.

A pergunta que fica é: será que Ancelotti vai conseguir: chegar e manter-se na Granja Comary ou acabará visitando seus chefes na Bangu VII, local idílico que sempre devora dirigentes e projetos como se fosse a feijoada azeda da madrugada? Porque aqui, a cada derrota em amistoso, surgem as cornetas, as teorias de conspiração e as comparações com Telê, Parreira, Zagallo e até Tite. Lembro sempre do invicto Telê, pela falta de estratégia contra a Itália de 1982. Lá, onde se privilegia a estratégia, todos sabiam que era para fechar o meio e sair com o empate, que nos daria a vaga para a final. O profexô Telê mandou o time pra frente e deu no que deu. O Profexô Tite, recentemente, seguiu o mestre e, apesar dos gritos do Neymar, mandou o nosso time pra frente, o leste europeu impôs a sua estratégia, empatou o jogo, foi para a prorrogação e ganhou. Ficamos chupando os dedos por falta de têmpera do nosso prolixo treinador.

Na Comary, o Ancelotti terá campos impecáveis, psicólogos, nutricionistas e dados em tempo real. A estratégia vinda da sua espetacular equipe de resultados, será o ponto alto da contratação. Vendo, de longe, uma simbólica Bangu, terá que lidar com pressão política, convocação por celular e repórter perguntando se ele conhece o novo lateral-esquerdo do Maricá.

Mas se existe um homem capaz de transitar entre esses mundos, sem se sujar, é Carlo Ancelotti. Com sua calma de quem já viu de tudo e sua sobrancelha que não se altera nem em final de Champions, ele pode ser o ponto de equilíbrio entre a arte da pelada, nos extintos campos de várzea, e a eficiência da Champions League. É o aliado certo para a desesperançada torcida brasileira.

Seja como for, o Brasil da bola agradece. Porque, no fim das contas, entre um presídio e um paraíso blindado, o que o torcedor quer mesmo é voltar a sorrir em junho e julho — e, de preferência, levantando a Copa do Mundo. Agora, o momento é de espera pela canetada que virá do Supremo. Que beleza de futebol!

Roberto Caminha Filho, economista, é um sobrevivente do desgosto no Estádio Sarriá. Se era para ser um Sarnei, que colocassem o José. Esse voltaria com a Taça.

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