Bolsa afunda com temor fiscal no Brasil e nos EUA. Dólar cai a R$ 5,64
Investidores temem o agravamento da situação fiscal nos EUA e aguardam anúncio de novas medidas no Brasil. Bolsa bateu recorde na véspera
atualizado
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O dólar encerrou a sessão desta quarta-feira (21/5) em queda, em um dia no qual o mercado financeiro seguiu repercutindo declarações da véspera dadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e em meio a incertezas em relação à política fiscal norte-americana.
No Brasil, o anúncio de novas medidas fiscais por parte da equipe econômica, previsto para quinta-feira (22/5), também esteve no centro das atenções dos investidores.
Dólar
- A moeda dos EUA terminou o dia em baixa de 0,46%, negociada a R$ 5,643, acompanhando o movimento global da divisa norte-americana.
- Na cotação máxima da sessão, o dólar bateu R$ 5,678. A mínima foi de R$ 5,64.
- No dia anterior, o dólar fechou em alta de 0,26%, cotado a R$ 5,669.
- Com o resultado, a moeda norte-americana acumula perdas de 0,6% em maio e 8,68% em 2025 frente ao real.
Ibovespa
- O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil (B3), desabou um dia depois de bater seu recorde histórico.
- Ao final do pregão, o indicador tombou 1,59%, aos 137,8 mil pontos.
- Na véspera, o índice fechou com ganhos de 0,34%, aos 140,1 mil pontos, batendo novo recorde.
- Na quinta-feira (15/5), o Ibovespa atingiu a marca de 139.334 pontos, outro patamar inédito até então.
- Antes disso, na terça-feira (13/5), o índice havia alcançado outro nível histórico: 138.963 pontos, depois de uma alta de 1,74%.
- Com isso, foram quatro quebras de recorde em um período de uma semana e um dia.
Risco fiscal nos EUA
Os investidores temem o agravamento da situação fiscal nos EUA, principalmente depois de declarações de Trump, na última terça-feira (20/5), em reunião com congressistas no Capitólio (o Congresso norte-americano).
Trump disse que pode haver um aumento significativo de impostos no país caso o projeto tributário apresentado por seu governo não seja aprovado pelo Legislativo.
“A alternativa [ao projeto] é um aumento de impostos de 68%. E você pode culpar os democratas por isso, um ou dois fanfarrões [congressistas do Partido Democrata, de oposição]”, afirmou Trump.
Segundo o presidente dos EUA, o projeto apresentado por sua istração e que vem sendo discutido no Congresso prevê “o maior corte de impostos da história do país”.
De acordo com economistas, o projeto pode acrescentar de US$ 3 trilhões a US$ 5 trilhões à dívida dos EUA, de US$ 36,2 trilhões, ao longo da próxima década.
Segundo a Moody’s, uma das principais agências de classificação de risco do mundo, a dívida dos EUA pode atingir 134% do Produto Interno Bruto (PIB) do país até 2035. A agência rebaixou a nota de crédito norte-americana.
A proposta da Casa Branca prorroga os cortes de impostos implementados por Trump em seu primeiro mandato, entre 2017 e 2021, reduz os impostos sobre a renda de horas extras, aumenta gastos com defesa e fornece mais fundos para a política de controle das fronteiras.
Críticos do projeto, inclusive dentro do Partido Republicano, defendem que o governo banque cortes maiores no programa de saúde Medicaid para norte-americanos de baixa renda, além da revogação completa dos chamados “créditos fiscais verdes”, instituídos pelos democratas.
Na última sexta-feira (16/5), quatro parlamentares do Partido Republicano, de Trump, haviam bloqueado a tramitação do projeto na Comissão de Orçamento da Câmara dos Representantes. Após negociarem com o governo, eles permitiram que a proposta avançasse.
“Não vamos cortar nada significativo [em programas sociais]. Não vou mudar o Medicaid, o Medicare ou a Previdência Social”, afirmou Trump.
Títulos do Tesouro
Em meio ao temor fiscal envolvendo a maior economia do mundo, os rendimentos dos chamados “Treasuries” (os títulos do Tesouro dos EUA) voltaram a subir nesta quarta-feira. Logo pela manhã, a taxa de 10 anos estava acima de 4,5%, e a de 30 anos, superior a 5%.
Durante a tarde, os rendimentos dos “Treasuries” intensificaram a alta e se aproximaram das máximas. Esse movimento aconteceu depois de o nível de deságio da taxa ter alcançado o maior patamar para leilões de papéis de 20 anos desde dezembro de 2024.
Por volta das 14h20 (pelo horário de Brasília), o rendimentos dos “Treasuries” de 30 anos avançava para 5,054%, enquanto os dos papéis de 10 anos subiam 4,566%.
“Treasuries” são títulos de dívida emitidos pelo governo norte-americano para financiar as operações do governo, projetos públicos e a dívida nacional. Em condições normais, são considerados um dos investimentos mais seguros do mundo.
Novas medidas fiscais no Brasil
No cenário doméstico, as atenções do mercado seguem voltadas ao possível anúncio de novas medidas fiscais por parte da equipe econômica comandada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).
O chefe da pasta conversaria com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para discutir novas medidas fiscais, que devem ser anunciadas na quinta-feira (22/5).
“Vamos ter várias reuniões essa semana para fechar e, na quinta-feira, a gente divulga o quadro fiscal e o que for necessário, como no ano ado”, afirmou Haddad, sem detalhar o que pode ser anunciado pelo governo.
O chefe da equipe econômica não confirmou que a Fazenda esteja planejando o anúncio de um contingenciamento de R$ 18 bilhões, como vem sendo especulado nos bastidores. “Eu não posso antecipar”, limitou-se a dizer Haddad.
Também na quinta-feira, está prevista a divulgação do Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas, documento orienta a execução do Orçamento.
Normalmente, o Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas apresenta o quadro fiscal para o ano corrente. O documento traz os valores a serem contingenciados (para cumprir a meta de resultado primário) ou bloqueados (para cumprir o limite de gastos do arcabouço fiscal).
Análise
Para André Valério, economista-sênior do Banco Inter, “o movimento do câmbio hoje segue a tendência global, com maiores receios sobre a sustentabilidade fiscal de economias desenvolvidas, principalmente EUA e Japão”.
“Nos EUA, a iminente aprovação da nova Tax Bill, que tende a aumentar o déficit público americano ao cortar impostos sem cortes significativos nos gastos federais, tem piorado o humor dos mercados nos últimos dias. Soma-se a isso o downgrade da dívida pública americana anunciado pela Moody’s, além de um leilão de Treasuries realizado hoje com baixa demanda”, explica.
“Assim, vemos o dólar perdendo força globalmente, com o índice DXY recuando mais de 0,5% na sessão de hoje. O real apreciou na margem, seguindo a tendência global, mas não observamos nenhuma moeda apresentando ganhos expressivos”, observa Valério.