Dólar fica estável e Bolsa volta a cair após congelamento no Orçamento
O mercado também acompanha a divulgação dos dados do Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, documento que faz atualização no Orçamento
atualizado
Compartilhar notícia

O dólar ou a operar estável e o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil (B3), que havia firmado alta após a notícia de que o governo federal anunciaria um congelamento de R$ 31,3 bilhões do Orçamento de 2025, voltou a recuar nesta quinta-feira (22/5).
O mercado também acompanha a divulgação dos dados do Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, documento que faz uma atualização das projeções para o Orçamento.
No cenário internacional, o foco continua sendo a situação fiscal nos Estados Unidos, com preocupações acerca da dívida norte-americana e sua proporção em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).
Dólar
- Às 16h06, o dólar caía 0,01%, a R$ 5,644, praticamente estável.
- Mais cedo, às 15h48, a moeda dos EUA recuava 0,23% e era negociado a R$ 5,63.
- Na cotação máxima do dia até aqui, o dólar bateu R$ 5,68. A mínima é de R$ 5,596.
- No dia anterior, o dólar fechou em queda de 0,46%, cotado a R$ 5,643.
- Com o resultado, o dólar acumula perdas de 0,6% em maio e 8,68% em 2025 frente ao real.
Ibovespa
- O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil (B3) mudou o sinal e ou a operar em queda no fim do pregão.
- Às 16h10, o indicador recuava 0,32%, aos 137,4 mil pontos.
- Na véspera, o Ibovespa encerrou o pregão em forte baixa de 1,59%, aos 137,8 mil pontos.
- Com o resultado, o indicador acumula ganhos de 2,08% no mês e de 14,63% no ano.
Congelamento no Orçamento
O governo federal faz, nesta quinta-feira, a primeira contenção no Orçamento deste ano como parte dos esforços para cumprir a meta de gastos do arcabouço fiscal — como é chamada a nova forma de controle de endividamento público brasileiro.
Serão congelados R$ 31,3 bilhões, sendo R$ 10,6 bilhões em bloqueio e R$ 20,7 bilhões em contingenciamento.
O detalhamento da contenção, por órgão, ainda não saiu e estará em decreto a ser publicado em 30 de maio. Os órgãos deverão indicar onde serão feitos os bloqueios e contingenciamentos em até cinco dias úteis.
O valor do corte no Orçamento, anunciado nesta quinta-feira, foi o dobro da cifra projetada por economistas e consultorias, que girava em torno de R$ 15 bilhões. Ao comentar o congelamento de grande porte, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, explicou que o “crescimento acima das projeções das despesas de Previdência fez com que tivéssemos por obrigação legal colocar um bloqueio significativo na mesa”.
Já o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, disse que o anúncio é um retrato do momento e que novas decisões serão tomadas quando necessário. “O monitoramento do Orçamento é diário. Sempre que nós entendermos que é conveniente tomar medidas, nós vamos ter que incidir. O tempo todo a equipe está trabalhando para entender o que está acontecendo, para evitar de nós termos surpresas desagradáveis”.
Como o Orçamento de 2025 só foi aprovado em março, a publicação do relatório previsto para o 1º bimestre era facultativa. Dessa forma, não houve indicação de bloqueio nem contingenciamento. Logo, este é o primeiro corte nas contas públicas.
A meta fiscal para 2025 é de déficit zero — equilíbrio entre despesas e receitas —, com banda (intervalo de tolerância) que permite um déficit de até R$ 31 bilhões. Isso porque o arcabouço fiscal permite um rombo de até 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB).
Estados Unidos
No exterior, os olhos do mercado continuam voltados aos EUA, também sob forte preocupação com a questão fiscal na maior economia do mundo.
Em uma vitória do governo do presidente Donald Trump, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou, na manhã desta quinta-feira, o projeto que traz um pacote de medidas de corte de impostos e gastos, uma das bandeiras da atual istração.
O texto foi aprovado em uma votação muito apertada, com 215 votos favoráveis e 214 contrários. Após a aprovação pelos deputados, a proposta agora será encaminhada ao Senado.
Na última terça-feira (20/5), Trump havia afirmado que poderia ocorrer um aumento significativo de impostos no país caso o projeto tributário apresentado por seu governo não fosse aprovado pelo Legislativo.
“A alternativa [ao projeto] é um aumento de impostos de 68%. E você pode culpar os democratas por isso, um ou dois fanfarrões [congressistas do Partido Democrata, de oposição]”, afirmou Trump.
Segundo o presidente dos EUA, o projeto apresentado por sua istração e que vem sendo discutido no Congresso prevê “o maior corte de impostos da história do país”.
De acordo com economistas, o projeto pode acrescentar de US$ 3 trilhões a US$ 5 trilhões à dívida dos EUA, que é de US$ 36,2 trilhões, ao longo da próxima década.
Segundo a Moody’s, uma das principais agências de classificação de risco do mundo, a dívida dos EUA pode atingir 134% do PIB do país até 2035. A agência rebaixou a nota de crédito norte-americana.
A proposta da Casa Branca prorroga os cortes de impostos implementados por Trump em seu primeiro mandato, entre 2017 e 2021, reduz os impostos sobre a renda de horas extras, aumenta gastos com defesa e fornece mais fundos para a política de controle das fronteiras.
Críticos ao projeto, inclusive dentro do Partido Republicano, defendem que o governo banque cortes maiores no programa de saúde Medicaid para norte-americanos de baixa renda e revogue completamente os chamados “créditos fiscais verdes”, instituídos pelos democratas.
Na última sexta-feira (16/5), quatro parlamentares do Partido Republicano, de Trump, haviam bloqueado a tramitação do projeto na Comissão de Orçamento da Câmara dos Representantes. Após negociarem com o governo, eles permitiram que a proposta avançasse.
“Não vamos cortar nada significativo [em programas sociais]. Não vou mudar o Medicaid, o Medicare ou a Previdência Social”, afirmou Trump.
Ainda nesta quinta-feira, os investidores acompanham a divulgação de dados preliminares sobre o Índice de Gerente de Compras (PMI) do setor industrial nos EUA, pela S&P Global.
O Departamento de Trabalho do governo norte-americano também divulga os novos números de pedidos de seguro-desemprego, referentes à semana encerrada em 17 de maio.
Análise
Segundo André Valério, economista-sênior do Banco Inter, o projeto de Trump “tenta cumprir diversas promessas de campanha, como a não taxação de gorjetas”.
“Além disso, o projeto expande o financiamento para o combate à imigração, destina mais recursos para gastos com defesa e aumenta o limite da dívida pública”, observa Valério.
“Ao longo de 10 anos, o projeto prevê um custo não financiado de US$ 3,8 trilhões, com diversos cortes de impostos e aumento de gastos tendo efeito imediato, enquanto as medidas de aumento de receita e corte de gastos seriam efetivadas mais à frente, provavelmente após 2027. Assim, o projeto contribui para a piora do déficit público americano pelos próximos dois a três anos”, analisa.
Valério destaca que “a aprovação do projeto vem em meio ao aumento da incerteza nos EUA, devido às tarifas e à maior percepção de risco fiscal da economia americana, que atualmente incorre no maior déficit público em tempos de paz”.
“Mesmo com o recuo nas tarifas sobre produtos chineses, o mercado de títulos americano tem se deteriorado nas últimas semanas, com significativo aumento nas taxas dos títulos de longo prazo”, afirma.
“Eleito com a promessa de corte de gastos, o governo Trump não parece que irá atender às expectativas nesse quesito. A iniciativa DOGE não entregou os resultados esperados, e Elon Musk já está se afastando da istração. Soma-se a isso o recente downgrade da dívida pública americana feito pela Moody’s, o que tem exacerbado esse movimento nas taxas dos títulos, contribuindo também para a desvalorização global do dólar. Isso, por sua vez, leva à valorização de ativos reais, como o ouro, que tendem a se valorizar em contextos de maior aversão ao risco”, prossegue o economista.
“Entretanto, parte desse movimento de deterioração das taxas foi revertido hoje, após falas do membro do Fomc Christopher Waller — visto por muitos como o próximo presidente do Fed e que tem atuado como uma espécie de sombra à figura de Jerome Powell. Ele afirmou que, caso as tarifas se estabilizem ao redor de 10%, vê um caminho para a retomada dos cortes nos juros a partir do segundo semestre, o que gerou alívio no mercado”, explica.